Vai ser muito difícil alguém tirar os prêmios de melhores atores de 2012 de Adriana Esteves e Murilo Benício. E olha que tivemos um ano riquíssimo em atuações extraordinárias, principalmente, em Avenida Brasil, que eles protagonizaram. Mas a dupla – cada qual a sua maneira – seduziu o público de forma arrebatadora.
Enquanto Adriana seguiu uma linha mais explosiva, cheia de gestos largos, muitos gritos e até grunhidos. Bem diferente da opção de Murilo pela introspecção, fala mansa e jeito de cara do bem. Mas os dois estiveram igualmente soberbos. Na verdade, as interpretações de Adriana e Murilo são tão opostas, que chegam a ser complementares. Mesmo nos recentes ataques de fúria de Tufão, ao descobrir que a tão religiosa esposa o traiu a vida toda com o cunhado, bem debaixo de seu próprio teto, o ex-jogador perdeu sua essência. Rolou grito, tapa na cara e muito rancor, mas o bom e velho Tufão de guerra estava lá.

Apesar de carregar no nome, não foi Tufão e sim Carminha a força da natureza dessa novela. A personagem conseguia ser o diabo em forma de gente e também a mais doce das criaturas numa mesma cena. Haja versatilidade! A primeira-dama do Divino consumiu tanta energia física e psicológica de sua intérprete que Adriana definhou a olhos vistos. Ela perdia peso de um dia para o outro, levando a equipe de figurinistas da novela a fazer acertos nas roupas de Carminha na hora de começar a gravar. Mas tanto sacrifício e dedicação valeram à pena. Não era novidade nenhuma o tamanho do talento de Adriana Esteves, basta lembrar seus desempenhos em Dalva e Herivelto – Uma Canção de Amor (2010), O Cravo e a Rosa (2000) eTorre de Babel (1998)! Mas com sua performance não arrebatadora em Avenida Brasil, Adriana entrou de forma definitiva no hall das grandes damas da interpretação desse país, quiçá, do mundo.

Mesmo espaço que Murilo Benicio já ocupa. Murilo não é apenas um ator. Ele é um artesão. Cada personagem que constrói tem identidade própria, não só na personalidade, mas também na caracterização corporal. Do dente cerrado para o jagunço Juca Cipó, do remake de Irmãos Coragem (1995), à voz fanha do Danilo, de Chocolate Com Pimenta (2003), passando pela gagueira do Arthur, de Pé na Jaca(2006), e o ar cansado do gêmeo Lucas, de O Clone (2001), o rapaz sempre arrasa. Para cada papel, ele tem uma voz e uma postura especifica. Campeão nos campos, derrotado na vida, Tufão ganhou um tom grave, baixo, um corpo meio curvado e tenso. São detalhes minuciosos que só um grande ator se preocuparia em desenvolver. E como é bom ver um profissional buscar com tanto empenho uma veracidade no trabalho que executa, sem nunca se permitir ligar o piloto automático.

Murilo Benicio e Adriana Esteves já alcançaram a fama, conquistaram dinheiro e prestigio, mas nunca se acomodaram em seus tronos. Trabalhadores compulsivos e apaixonados, eles dão orgulho e prestigio para o oficio que escolheram e uma alegria sem fim para o público que nunca se cansa de aplaudi-los. Como eu o faço agora. Muitos aplausos que eles merecem!